RAIA RÁPIDA

Manaudou deixa de ser só 'irmão de Laure' e chega ao Rio como campeão

Lembrado apenas como caçula da medalhista de ouro em Atenas, algoz de Cielo em Londres é um dos protagonistas do Raia Rápida no fim de semana

Por Marcello Pires Rio de Janeiro

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Florent começou a nadar influenciado pelo irmão mais velho Nicholas, mas foi a irmã Laure que tornou o sobrenome Manaudou famoso no mundo da natação e um dos mais temidos dentro das piscinas. Até o dia 4 de agosto de 2012, data da surpreendente e histórica vitória sobre o então campeão olímpico Cesar Cielo, na final dos 50m livre em Londres, o caçula da família era somente um jovem francês de 21 anos nascido na pequena Villerbanne, cidade vizinha a Lyon, que se acostumou a ser reconhecido como o irmão mais novo da bicampeã mundial dos 400m livre em Montreal-2005 e Melbourne-2007 e campeã olímpica em Atenas-2004 na mesma prova. Depois do ouro na capital britânica, tudo mudou. O anonimato e a pressão de se tornar tão talentoso quanto Laure se transformaram em fama e reconhecimento dos franceses. Nada capaz, porém, de mudar sua personalidade e inflar seu ego de campeão.

Florent Manaudou vibra com sua vitória sobre Cielo na final dos 50m livre em Londres (Foto: Agência Reuters)

- Antes dos Jogos Olímpicos eu sabia que poderia subir ao pódio, pois fiz bons tempos nos treinamentos e mudei minha técnica para nadar mais rápido. Mas tenho que admitir que a vitória foi uma boa surpresa. Meu objetivo era avançar à final, a medalha de ouro foi só um bônus. Ou melhor, um super bônus - afirmou o campeão olímpico dos 50m.
Se a sinceridade continua intacta, o peso por ter feito com Laure a única dupla de irmãos com ouros olímpicos tem seu preço. Coadjuvante em quase todas as competições disputadas até os Jogos de Londres, Florent desembarca nesta sexta-feira no Rio de Janeiro como protagonista do Desafio Raia Rápida, que será realizado pela primeira vez na capital fluminense, neste domingo, no Parque Aquático Julio Delamare.
Antes de aterrissar na sede dos próximos Jogos Olímpicos, o francês de apenas 21 anos lamentou a ausência de Cielo - com lesões nos joelhos - no desafio do próximo domingo em entrevista por e-mail ao GLOBOESPORTE.COM. Competitivo, ele admitiu que sempre será um privilégio enfrentar o ainda recordista mundial dos 50m livre.
Se o tempo de 21s34 conquistado em Londres não foi veloz o bastante para derrubar a marca de 20s91 do brasileiro, foi mais do que suficiente para acabar com a desconfiança da imprensa francesa, que tratou sua vitória nas Olimpíadas como uma façanha inesperada.

Antes das Olimpíadas, você tinha alguma esperança de ganhar uma medalha de ouro nos 50m livre em Londres?
Antes dos Jogos Olímpicos eu sabia que poderia subir ao pódio, pois fiz bons tempos nos treinamentos e mudei minha técnica para nadar mais rápido. Mas tenho que admitir que a medalha de ouro foi uma boa surpresa.
O que passou pela sua cabeça quando percebeu que havia vencido Cesar Cielo e conquistado o ouro?
A ficha demorou a cair e eu ainda não tinha ideia do que havia conquistado naquele momento. Eu pensei sobre tantas coisas e nada ao mesmo tempo. Vencer o Cesar Cielo foi simplesmente fantástico. Qualquer velocista do mundo sonhou com isso e gostaria de estar no meu lugar. Eu posso falar isso por todos os nadadores que nadaram aquela final. Mas isso não é tudo, Cielo vai continuar entre os melhores durante anos e será um privilégio enfrentá-lo nas próximas competições.

Você chegou a enfrentá-lo quando ainda era permitido o uso dos supermaiôs?
Nunca o enfrentei naquela época.
Você acredita que a proibição desses supermaiôs mudou o cenário da natação e pode ter sido o principal motivo para a derrota de alguns detentores de recordes mundiais como Cesar Cielo, por exemplo?
É difícil separar qual a parcela da tecnologia e a do nadador numa conquista. Eu acho que atualmente as competições são melhores pelo fato de esses supermaiôs serem usados para ajudar os nadadores mais fortes e pesados.

Meu objetivo era avançar à final, a medalha de ouro foi só um bônus. Eu diria que um super bônus"

Manaudou

Após a vitória em Londres você admitiu que nadou de forma descontraída. Acredita que a pressão de defender o título olímpico atrapalhou o Cielo?
Talvez sim, mas é difícil ter certeza pois eu não sei como ele lida com esse tipo de pressão durante as competições. Eu nadei relaxado porque meu objetivo era avançar à final, a medalha de ouro foi só um bônus. Ou melhor, um super bônus.
Cesar Cielo não vai participar do Raia Rápida neste fim de semana. Você está muito ansioso em enfrentá-lo novamente?
Claro que sim. A ausência dele é uma pena, pois o Cielo é um dos melhores velocistas do mundo e eu sempre estarei preparado para uma revanche contra ele.
Como você espera ser tratado no Rio de Janeiro pelos fãs brasileiros depois de tê-lo vencido em Londres?
Ouvi coisas maravilhosas sobre o Brasil e sobre seu povo, por isso espero ser bem muito recebido no Rio de Janeiro. Até porque sei que irei competir muitas outras vezes contra o Cesar Cielo. Em Londres foi só o começo.
Antes das Olimpíadas de Londres você era lembrado apenas como o irmão de Laure Manaudou, campeã olímpica em Atenas-2004. O tratamento da imprensa mudou muito após a conquista do ouro em Londres?
Sim, desde a conquista da medalha de ouro em Londres eu deixei de ser apenas o irmão da Laure. Agora eles me tratam como um nadador real, que pode ser mais rápido e fazer a diferença. É ótimo ser conhecido pelo meu trabalho e não apenas pelo nome do meu passado.
Isso incomodou você?
Claro que não, ela é minha irmã e uma grande campeã. Foi apenas difícil no início porque eu coloquei muita pressão sobre mim para ser tão talentoso quanto ela. Mas não me incomoda, acho até que me fez trabalhar mais e dar sempre o meu melhor.

Manadou olha para o futuro: 'Londres foi só o
começo', garante (Foto: Getty Images)

O fato de a imprensa francesa ter ficado surpresa com sua vitória sobre o Cielo te deixou chateado?
Não, eu sabia que poderia nadar mais rápido durante os treinamentos. No entanto, eu e meu treinador preferimos não falar nada para as pessoas antes de Londres. Por isso eu acho que eles tenham ficado surpresos com meu desempenho na prova dos 50m livre.
Como você se sente cada vez que enfrenta seu cunhado, Fred Bousquet?
Fred não chegou à final em Londres, mas sempre nos divertimos quando nos enfrentamos. Porém, a competição fica somente dentro d’água. Fora das piscinas, ele sempre me dá conselhos para nadar mais rápido. Ele é uma pessoa muito importante para mim e sei que posso contar com ele.

Uma final olímpica é algo especial como nós vimos em Londres. James Magnussen pagou por isso"

Manaudou

Você acha que o australiano James Magnussen falou demais antes das Olimpíadas e menosprezou seus adversários?
Se você pegar os vencedores nos Jogos Olímpicos, vai perceber que eles não são os mesmos do Campeonato Mundial de Xangai, no ano passado. Uma final olímpica é algo especial como nós vimos em Londres. James Magnussen pagou caro por isso.
Quem serão os principais nomes da natação francesa na Olimpíada no Rio?
O Giacomo Perez Dortona, que disputou as provas de peito nos últimos Jogos Olímpicos. Ele é o melhor francês neste estilo. Posso citar também o Dorian Gandin no nado de costas, ele ganhou a medalha de bronze no Campeonato Europeu. E espero que eu seja um desses nomes no Rio de Janeiro. Todos nós vamos competir no Raia Rápida neste domingo. Será uma competição de alto nível. Tenho certeza de que vamos nos divertir.
Cielo disse que você nadou a prova da sua vida. Você concorda? Como foram os momentos que antecederam a prova?
Com certeza. Sinceramente, eu não esperava ganhar a medalha de ouro. Antes da final eu estava bastante calmo pois meu objetivo de estar na final já havia sido alcançado. Como eu disse antes, o resto foi só um bônus.
Você acha que o fato de o Cielo ter nadado a final do 100m pesou nos 50m? Acha que ele pode ter "queimado" um pouco de velocidade para final?
Não sei dizer. Ele é um nadador talentoso, acostumado a nadar muitas provas na mesma competição. Mas os Jogos Olímpicos são diferentes. A pressão que você sente por parte das pessoas e de si mesmo não é a mesma de outras competições. É uma pressão muito desgastante, especialmente se você tem que nadar muitas provas.
Você fez apenas o sexto tempo nas eliminatórias. Qual foi sua estratégia para conquistar a medalha de ouro?
Eu estava bem nos treinamentos, bem de cabeça e relaxado. Como eu não era considerado favorito, não tive tanta pressão e tive tempo para fazer o que eu aprendi em todos esses anos sem reclamar de nada. Ganhar a medalha de ouro foi um título ainda mais incrível porque meus adversários eram muito talentosos e rápidos.
Você acha que pode se tornar bicampeão olímpico no Rio de Janeiro e conquistar um feito que Cesar Cielo não conseguiu em Londres?
Eu não sei ainda, só vou descobrir nos próximos anos de acordo com meu treinamento e meu físico. Não podemos esquecer que outros nadadores mais jovens também podem surpreender como eu, por isso é muito difícil de responder essa pergunta.