Supermercado JIRÉ

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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

CASO LORE


26/09/2012 15h03 - Atualizado em 27/09/2012 09h00

'Faca de churrasco' foi usada para degolar jovem, aponta depoimento

Funileiro e auxiliar trocam acusações responsável por corte no ABC.
G1 teve acesso aos interrogatórios dos três suspeitos de matar Lore Vaz.

Kleber Tomaz Do G1 SP
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Trecho do interrogatório do auxiliar Robert Gama (Foto: Reprodução)Trecho do interrogatório do auxiliar Robert
Gama (Foto: Reprodução)
Dois dos três homens que estão presos temporariamente por confessar o envolvimento no assassinato da universitária e promotora de eventos Lore de Santana Vaz, de 26 anos, disseram em seus depoimentos à Polícia Civil que usaram duas facas no crime: uma de churrasco, de 30 centímetros, e uma outra, de 15 centímetros. Nos interrogatórios, eles se acusaram mutuamente sobre quem teria sido responsável pelo golpe que matou a jovem na última quarta-feira (12).
De acordo com os presos, o funileiro Raimundo Nonato Bezerra, de 32 anos, e o auxiliar de limpeza Robert Pirovani Gama, de 21 anos, a faca de churrasco usada no crime foi cedida pelo ex-marido da vítima e suspeito de ser o mandante do crime: o desempregado Allan dos Santos Peçanha, de 27 anos. Até esta tarde, as duas facas usadas no crime não foram localizadas.

O G1 não conseguiu localizar nesta quarta-feira (26) os advogados dos detidos para comentar os depoimentos.
O crime
Na quinta-feira (13) passada a estudante foi encontrada degolada em Santo André, no ABC, dentro do carro usado por ela. O pescoço e orelha da vítima estavam cortados e os dentes quebrados.

De acordo com o Setor de Investigações sobre Crimes de Homicídios da Delegacia Seccional da cidade, Allan Peçanha pagou mais de R$ 2 mil para que sua ex-mulher fosse levada na saída da faculdade em São Caetano do Sul e morta na sequência.

O motivo, segundo a investigação, foi financeiro: Lore estava cobrando do ex-marido uma dívida de R$ 3 mil. Após o crime, o trio fugiu em um veículo conduzido pelo ex-marido da vítima. Imagens gravadas por câmeras de segurança mostraram a ação criminosa.
 'Bem afiada'O G1 teve acesso aos interrogatórios dos três presos. Na sexta-feira (21), a equipe do delegado Paulo Rogério Dionizio ouviu a versão do funileiro Raimundo. “Meu parceiro Robert ficara com ela no banco traseiro deste carro. Robert estava com uma faca grande, fornecida pelo ‘Boy’ (Allan) e eu estava com outra, um pouco menor”, disse Raimundo aos policiais.
O auxiliar Robert deu seu depoimento na quinta-feira (20). “Informo que as facas utilizadas, uma foi fornecida pelo próprio Allan, e a outra levada por Raimundo. A faca fornecida por Allan era daquelas utilizadas em churrasco, com lâmina de aproximadamente 30 centímetros, tendo ela permanecido em meu poder. A faca usada por Raimundo era de tamanho menor, com aproximadamente 15 centímetros de lâmina, porém, bem afiada”, relatou.

Apesar de confirmarem em seus interrogatórios que fizeram uso de duas facas para sequestrar Lore, Raimundo e Robert negam que tivessem a intenção de matá-la. Informaram ainda que o combinado com Allan era somente dar um susto na ex-mulher dele.
Caso Lore Vaz (Foto: Reprodução)Funileiro Raimundo Bezerra (Foto: Reprodução)
“Eu questionei Robert e Boy, haja vista que o combinado não era matar a vítima e sim assustá-la. Robert dizia: ‘...já era, o que tá feito, tá feito’. Já o Boy dizia o mesmo, parecia satisfeito com o resultado. Para mim, Robert e Allan (Boy) combinaram anteriormente matá-la (...)”, informou Raimundo.
Robert informou que a outra parte do que haviam combinado era “pegar o veículo [um Fiat Uno que Lore usava]”.
Em outros trechos de seus interrogatórios, o funileiro e o auxiliar entram em contradição sobre quem degolou Lore. Um acaba acusando o outro pelo assassinato.
“Acredito que a vítima [Lore] tentara reagir, aí Robert desferira alguns golpes na vítima, na região do pescoço e acredito que na cara também. Eu dizia para Robert parar com as agressões. Eu apenas dirigia e não tinha muita visão do que ocorria no banco de trás (...) Fora usada somente a faca maior. Sofrera vários golpes, ela gritava e dizia que estávamos machucando”, contou Raimundo.
Caso Lore Vaz (Foto: Reprodução)Auxiliar Robert Gama (Foto: Reprodução)
'Arranhou o meu rosto'A versão do funileiro Raimundo sobre quem esfaqueou a universitária é rebatida pela de Robert. “Aí comecei falar para ela [Lore] ficar calma, de repente ela começou a se debater e tentou tirar a faca da minha mão. Ela segurou a faca da minha mão, e tentava puxar de mim. Ai ela arranhou o meu rosto e passou a faca no meu rosto. Aí falei pro [sic] Raimundo que ela estava pegando a faca e tinha me cortado. Foi ai que o Raimundo pegou a faca do colo dele, e mesmo dirigindo o veículo, se virou, e passou a faca no pescoço dela", afirmou em depoimento.

"Joguei ela de lado, falei para ele que ela tava morrendo. Aí, ela ainda tentou abrir a porta do carro e eu puxei ela. Joguei ela no banco e ela ficou caída com o pescoço para trás. O Raimundo deixou a faca cair, e foi aí que eu sujei as mãos de sangue, porque fiquei procurando a faca. Depois pulei para o banco da frente, falava para o Raimundo que ele era louco de ter matado a menina”, disse o auxiliar, que já ficou preso por um ano e nove meses por roubar um posto de gasolina em São Bernardo do Campo.
Caso Lore Vaz (Foto: Reprodução)Desempregado Allan Peçanha, ex-marido de Lore
Vaz (Foto: Reprodução)
Após perceberem que Lore foi fatalmente ferida, Raimundo e Robert abandonaram o Fiat prata, com Lore dentro, numa rua em Santo André. Em seguida, eles contaram que Allan os esperava em um Chevrolet Kadett vinho e os ajudou a fugir do local do crime. O auxiliar contou ainda que gastou o dinheiro que recebeu pelo crime comprando um tênis e passeando com a mulher num shopping.

'Coação'Depois de ter confirmado em seu interrogatório que havia contratado o funileiro e o auxiliar para darem um “susto” em Lore, Allan voltou atrás e mudou a versão.

Segundo seus advogados disseram na terça-feira (25) ao G1, o ex-marido da vítima tinha confessado sua participação no crime porque foi coagido psicologicamente e intimidado e pressionado pelos policiais civis.
“Ele confessou um crime que não cometeu sem a presença de seus defensores constituídos”, disse o advogado Luis Eduardo Crosselli, que, juntamente com a advogada Cristiane Tavares dos Santos, defende Allan.

A defesa informou que irá pedir a Justiça para que seu cliente responda ao homicídio em liberdade. Procurados, o Setor de Homicídios e o Ministério Público negaram que o suspeito tenha sofrido qualquer coação nas quase duas horas em que foi ouvido na presença deles.
Por conta das contradições nos três interrogatórios, a polícia não descartou uma acareação entre os detidos e até mesmo uma reconstituição. Os laudos da Polícia Técnico-Científica também são aguardados para apontar quem degolou Lore. Um deles é de DNA: irá comparar o material genético de Raimundo e Robert com a pele encontrada sob as unhas de Lore.

Acusação
Para o advogado Ademar Gomes, que representa a família da vítima, as alegações de coação não devem interferir no andameto do inquérito. “O fato de os acusados negarem seu depoimento na polícia sob alegação de que foram coagidos não corresponde à realidade, pois os mesmos recusaram a presença de seus defensores", afirma.

"Além do mais, também o depoimento dos mesmos foi assistido pela promotora de Justiça Dra. Daniela e mais duas testemunhas - além da apreensão da faca e também dos vídeos, também apreendidos pela polícia, que colocam os acusados na cena do crime. Para a acusação é importante que os acusados neguem a autoria do crime. Isso virá a fortalecer a acusação e os acusados não terão a seu favor qualquer atenuante e benefício na dosimetria da pena”, afima Ademar Gomes.

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