Do palco para o corpo a corpo na rua, três candidatas ao cargo de vereadora
em São Paulo e em
Salvador têm utilizado a fama de
dançarinas para tentar angariar votos do eleitorado. Na capital paulista, Suelem
Aline Mendes Silva, mais conhecida como Mulher Pera, e na capital baiana, Marina
Silva Queiroz, a Mulher Perereca, e Ana Cecília Parada, a Mulher Maravilha,
chamam a atenção quando decidem sair à busca de apoio na campanha.
Mas não são apenas mulheres que vêm tentando atrair o eleitorado. O Homem
Picanha, em São Vicente (SP), o Homem Borracha, em
Anápolis(GO), e o Homem Caju, em
Fortaleza, também
têm buscado a vitória nestas eleições municipais. E, para isso, Adenilson Nobre
da Silva, Geferson Crosara e Kleber Santana têm usado os nomes de urna para se
sobressair.
Mulher PererecaCom o slogan "Quer conhecer meu rosto?
Então digite meu número e vote com prazer", a Mulher Perereca, que concorre pelo
PRTB, faz a campanha vestida com roupas sensuais e usando um véu verde na
tentativa de criar um ar de mistério diante do eleitorado masculino.
Autointitulada de "musa dos taxistas", ela causou alvoroço em um ponto de táxi
na região do Iguatemi, em Salvador, na terça-feira (11).
"É uma estratégia da campanha não tirar o véu. Saio com roupa de Mulher
Perereca, que é sempre um figurino sensual", disse. A candidata também investe
na maquiagem quando vai às ruas. No corpo, tem aplicação de silicone no quadril
(450 ml) e no busto (uma prótese de 215 ml).
Marina, que tem 32 anos, ficou conhecida no carnaval de 2009, quando era
dançarina da banda Black Style. "A música 'Perereca' fez sucesso e eu saí no
trio da banda só de tapa sexo e com o corpo todo pintado." Hoje, a Mulher
Perereca, que é mineira, mas foi criada no extremo sul da Bahia, tem a sua
própria banda, o "Bonde da Perereca", e dedica o trabalho artístico ao funk. Ela
disse que há dois meses se afastou dos palcos para se dedicar exclusivamente à
campanha eleitoral.
A candidata afirmou ainda que é a primeira vez que trabalha com política.
Segundo Marina, o interesse pela Câmara Municipal surgiu após o convite de
alguns partidos. "Quero entrar lá [Câmara] porque não sou política, sou do povo,
do gueto. Minha plataforma de trabalho é o transporte público em Salvador e
também vou brigar pelos direitos dos taxistas, como segurança e legalização de
alvarás."
Mulher MaravilhaJá a candidata Ana Cecília Parada, do
DEM, tem aliado a agenda da campanha política à carreira artística. Ela também
ficou conhecida pelo público durante o carnaval. Em 2010, quando integrava o
corpo de baile do grupo de pagode Levanoiz, se fantasiava como a heroína Mulher
Maravilha para fazer a coreografia da música "Liga da Justiça", sucesso da banda
na festa. Na música, era entoado um verso de duplo sentido: "Foge, foge, Mulher
Maravilha, foge, foge com o Superman".
Mulher Perereca em campanha pelas ruas
de
Salvador (Foto: Lilian Marques/G1)
Cissa, como gosta de ser chamada, é estudante de direito, e hoje dança no
grupo Gang do Samba. Segundo ela, é possível conciliar as duas atividades com
tranquilidade. "A banda não está com uma agenda muito extensa", disse a Mulher
Maravilha, durante um dos eventos da campanha. Seu último show com a Gang do
Samba ocorreu no dia 7 de setembro, em Salvador.
Mesmo com o visual discreto, a morena de olhos verdes é reconhecida por onde
passa nas ruas da capital baiana. Nesta terça-feira, ela participou de uma
passeata no bairro da Saramandaia vestida de calça jeans, tênis e apenas com um
adereço na cabeça, que a identificava por sua personagem que surgiu do pagode
baiano.
Ela disse que prefere não usar o figurino da heroína (short curto, top e
botas) porque acha a roupa desconfortável e considera a "vulgaridade
desnecessária". Ela disse que sempre teve uma postura de respeito nos palcos e
fora deles e que leva esse comportamento para a campanha. "Acho que tem que ter
talento, não precisa apelar", disse a dançarina.
Mulher Maravilha faz campanha em bairro
de
Salvador (Foto: Lilian Marques/G1)
Cissa afirmou ainda que está envolvida com política há sete anos e que chegou
a preparar a candidatura a um vaga na Assembleia Legislativa da Bahia em 2010,
mas desistiu por conta dos compromissos com a banda Levanoiz. "Fui filiada ao
PSL e agora estou no DEM. Já trabalhei como assessora parlamentar de três
secretários e fui subgerente da Casa do Benin e do Museu Municipal. Até então,
não tinha galgado um cargo público, mas sempre estive na área."
Aos 28
anos, é a primeira vez que a Mulher Maravilha se candidata a um cargo político.
Durante a campanha, emagreceu quase 10 kg após fazer uma lipoescultura, no
início de setembro. "Aproveitei que ia colocar as próteses [de silicone, 350 ml]
e fiz a lipo também", contou.
A candidata a vereadora já foi rainha e musa do Carnaval de Salvador. O foco
da campanha de Cissa é "atender a população menos favorecida". Se eleita, ela
disse que pretende trabalhar habilidades artísticas de comunidades como as do
Cabula, onde mora, Cidade Nova, Uruguai, IAPI, entre outros bairros da capital
baiana. "A Bahia é um celeiro artístico. Eu vim do gueto e, como trabalho nessa
área, vejo os bastidores, as necessidades desse universo. Vou trabalhar paras
ajudar as pessoas."
Mulher PeraMulher Pera também tem dividido a campanha
com os eventos dos quais participa. Na madrugada da quinta (6), ela foi o centro
das atenções em uma casa de strip na Zona Sul de São Paulo. Entretanto, apesar
dos panfletos sugestivos divulgados em semáforos da região, ela não exibiu o
corpo nu. "Não faço striptease. Eu sou funkeira", justificou. Coube a sua
bailarina atender os pedidos e se despir no palco.
Panfleto de divulgação da apresentação
de Mulher
Pera em SP (Foto: Reprodução)
Candidata pelo Partido Trabalhista do Brasil (PT do B), ela não pediu votos
durante o show. Durante a semana, Mulher Pera havia divulgado no Twitter o link
de uma foto de seu bumbum com o número de campanha escrito. “Fiz a foto do meu
bumbum para divulgar o meu número. Fiz outras fotos, com o número nos seios, no
rosto, mas ainda não divulguei."
A foto do bumbum, que estava no
Facebook, foi removida pelo site por ser considerada como conteúdo
impróprio.
No mesmo post em que divulgou a imagem, ela prometeu mostrar o piercing
íntimo caso seja eleita. Entretanto, apesar das provocações nas redes sociais,
foi bem mais comedida durante o show: nada de número ou pedido de voto. “Não
posso. Não posso fazer qualquer tipo de campanha durante os shows e muito menos
pedir voto”, disse.
De acordo com a resolução 23.370 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
"cantores, atores e apresentadores" podem exercer a profissão durante a
campanha, mas não podem animar comícios ou citar a candidatura durante as
atividades.
Suelem, que tem 26 anos, chegou ao local onde fez a apresentação por volta da
1h40 já vestida de Mulher Pera e acompanhada da escudeira Juliana Alves, de 26
anos. No entanto ela precisou esperar até as 2h15 em um corredor lateral da
boate com pouco mais de um metro de largura, com direito apenas a um espelho e
duas cadeiras para se acomodar. Enquanto aguardava ser chamada, a Mulher Pera
conversou com a equipe de reportagem sobre como tem feito para conciliar a
campanha política e as apresentações de funk, muitas delas já na madrugada
adentro.
“Tem sido bastante cansativo. Amanhã vou cedo de manhã gravar para o horário
político. E tenho feito campanha pelas ruas. A receptividade por parte das
pessoas, de todas as idades, tem sido boa”, contou, como uma veterana em
eleições. Em 2010, a Mulher Pera saiu candidata a uma cadeira de deputada no
Congresso Nacional, tendo recebido pouco mais de 3 mil votos. “Como vereadora,
tenho mais chance de me eleger."
Suelem se arruma em corredor com pouco mais
de
um metro de largura, que serve de 'camarim'
antes do show (Foto: Marcelo
Mora/G1)
Figurinha carimbada no desfile das escolas de samba durante o carnaval,
sempre se destacando pelo diminuto tamanho de suas fantasias, e em programas de
auditórios mais populares, Mulher Pera disse que decidiu entrar na política por
conta própria. “Ninguém me convenceu a ser candidata. Eu sempre quis ajudar as
pessoas de alguma forma." Em seu site de campanha, ela apresenta como
prioridades da sua plataforma política a construção de creches e escolas.
A Mulher Pera, acompanhada de sua escudeira, subiu ao palco na boate, envolta
em luzes de neon vermelha, roxa e azul, por volta das 2h15. E ignorou alguns
gritos dos mais exaltados: “Tira a roupa, Mulher Pera! Tira a roupa!”.
Para animar o público, ela recorreu a provocações, palavrões e muito funk com
letras que fazem associação direta com o ato sexual. No final, sob o comando da
Mulher Pera, a dançarina Juliana Alves se despiu por completo, para delírio do
público masculino presente. Pouco antes das 3h, o show terminou.
Homem BorrachaGeferson Crosara, de 37 anos, é candidato
a vereador de Anápolis pelo PSB. Ele se apresenta como Homem Borracha por causa
de seu talento como contorcionista. Ele já apareceu em programas de TV de várias
emissoras. Mas foi no quadro "Se vira nos 30", do Domingão do Faustão, do qual
saiu vencedor, que fez sua fama. Ele também faz apresentações na rua.
“Eu
já fui chamado de vários nomes, inclusive de Homem Elástico, mas foi o Homem
Borracha que ficou mais gravado na memória das pessoas. Usei esse nome na
campanha para que as pessoas se lembrem de mim como a pessoa que divulgou o nome
da cidade no Brasil inteiro”, disse o candidato. Geferson é de Goiânia, mas mora
em Anápolis há 21 anos. Seus dois filhos, de 14 e 18 anos, também têm a mesma
habilidade e já se apresentaram no programa do Faustão. Na ocasião, foram
chamados de “Borrachinhas”.
Homem Borracha faz apresentação (Foto:
Arquivo
pessoal)
É a primeira vez que ele se candidata a vereador. Dono de uma autopeças em
Anápolis, ele acredita que o nome de urna possa atrair os eleitores. A decisão
de entrar para a política se deu há um ano, quando ele sofreu uma infecção em um
dos dedos da mão e precisou de atendimento no Hospital Municipal da cidade. “Eu
passei por três médicos e nenhum resolveu meu problema. Era simplesmente uma
espinha de peixe que tinha entrado e infeccionado meu dedo e os médicos nem
sabiam dizer o que era."
Depois do episódio, o Homem Borracha decidiu que
queria fazer algo pela saúde da cidade. “Eu já estava com vontade de me
candidatar desde 2008 e, depois disso, vi que tinha que fazer algo. Minha
intenção é lutar pela melhora no atendimento aos pacientes."
Homem CajuKleber Santana, mais conhecido como o Homem
Caju, também é candidato pela primeira vez. Ele tenta uma vaga na Câmara de
Fortaleza pelo Partido Verde (PV). Para conquistar eleitores, veste um traje de
super-herói, com capa vermelha e um caju gigante bordado no peito. Durante a
campanha, canta e dança nas ruas.
Ele contou que a inspiração para o nome surgiu após as "mulheres frutas".
"Chegaram as mulheres frutas, daí eu pensei: 'Como eu sou conhecido por
Cajuzinho, por vender doce de caju quando era criança, e já está na hora de
virar um homem, veio a ideia do Homem Caju'", disse.
Durante as caminhadas da campanha eleitoral, duas "cajuzetes" o acompanham.
"São amigas, elas não recebem para fazer a campanha. A gente sempre troca
ajuda", afirmou. Enquanto dança e conversa com os eleitores, as cajuzetes
distribuem santinhos e adesivos.
Kleber
Santana vai às ruas com as 'cajuzetes' (Foto:
André
Teixeira/G1)
Antes da campanha, Kleber, de 28 anos, usava o personagem Homem Caju para se
apresentar em programas de televisão no Ceará. Ele contou que foi motivado a se
candidatar por amigos e colegas que o assistiam nos programas. "Muita gente me
dizia: 'Se você se candidatar, eu voto em você'. Então eu pensei: 'Já que eu
tenho tantos votos, vou me candidatar, sim", afirmou.
As propostas do Homem Caju são voltadas para a educação infantil e combate ao
preconceito contra gays e lésbicas. "Uma das cadeiras da Câmara tem que ser da
periferia, de gente que vai lutar contra preconceitos e lutar por uma educação
melhor."
Durante o corpo a corpo, o candidato também é acompanhado por um carro de
som, disponibilizado pela coligação que o apoia, tocando um funk que compôs para
se apresentar nos programas de televisão. "Não é o Homem Picanha, nem a Mulher
Filé, de quem eu estou falando: é do Homem Caju", diz o trecho de uma das
músicas.
Homem PicanhaO Homem Picanha, aliás, também concorre
nestas eleições. Em
São Vicente, no litoral
de
São
Paulo, Adenilson Nobre da Silva, de 33 anos, tenta uma vaga de vereador. Ele
ficou conhecido após invadir o campo da Vila Belmiro com uma pequena tanga
durante o jogo entre Santos e São Paulo, pelo Campeonato Brasileiro de 2010.
Apesar de ter nascido em Alagoas, ele busca uma cadeira na Câmara Municipal da
cidade paulista nas eleições deste ano.
Homem Picanha tenta vaga em São Vicente
(Foto:
Mariane Rossi/G1)
Homem Picanha é formado como técnico de enfermagem, mas conta que nunca
exerceu de fato a profissão porque sempre quis trabalhar com o ramo artístico.
Ele disse que chegou em São Vicente para ajudar a família composta por 19
irmãos. Por isso, fez um curso de modelo, começou a atuar como dançarino em
casas noturnas e a fazer shows com as mulheres frutas.
Ele classificou a invasão ao campo do Santos como “loucura”, mas disse que
não se arrependeu. “Eu fiz porque o meu corpo já estava mudando, já tinha feito
várias cirurgias, não era conhecido e para ser conhecido tem que ser muito louco
ou muito bom”, afirmou.
O candidato disse que já foi dono da maior prótese mundial masculina e fez
sete cirurgias plásticas, entre elas prótese no peitoral, no glúteo, na
panturrilha e lipoaspirações na barriga. O apelido surgiu após várias
transformações em seu corpo. “Coloquei esse nome de Homem Picanha para ser mais
polêmico. Eu pensei em vários nomes, eu queria Homem Filé. Um colega meu, que é
empresário, falou para colocar Homem Picanha porque é mais diferente, mais
forte, ele achava que ia pegar mais. E agora eu gosto do nome Homem
Picanha.”
Apesar de se dizer fã de cirurgias plásticas, ele contou que teve que retirar
a prótese no peitoral. “Por causa da política, e porque estava me machucando e
era exagerado. Pra mim, estava muito grande."
Com o slogan "Chega de carne de segunda, São Vicente agora quer picanha", ele
afirmou que o foco da campanha é a saúde, os direitos da mulher e o esporte. Ele
pretende criar um hospital para crianças, adolescentes e idosos, além de um
órgão para dar apoio às mulheres vítimas de violência doméstica. Ele também quer
incentivar a prática do esporte entre crianças e idosos.
O Homem Picanha disse que tem condições de conseguir muitos votos nesta
campanha, já que seu nome e suas atitudes polêmicas o tornaram conhecido. “Eu
tenho muito conhecimento. Porque eu sempre participei de trabalhos sociais. Pela
loucura que eu fiz e pelo voto de protesto a favor dos nordestinos e dos gays."